quinta-feira, 5 de março de 2009

O valor de um Sebo


Outro dia comprei em um sebo virtual dois livros que eu desejava há algum tempo. Ao recebê-los, fui surpreendida. O primeiro que desembrulhei era novinho, enrolado no plástico original, páginas branquinhas, capa durinha. Lindo, lindo! Minha felicidade foi comparada à de uma criança que recebeu seu tão esperado brinquedo novo. Ao desembrulhar o segundo, o sorriso murchou, o brilho dos olhos ofuscou-se. O livro era bastante usado, gasto, amarelado, com a capa toda manchada e alguns rabiscos. Não estava rasgado, nem mesmo faltavam páginas. Era um livro de sebo, comprado via internet, edição de 1989. minha decepção foi tão grande, que pensei em devolvê-lo, caso pudesse. Mas eu havia comprado em um sebo, sabia que não era um livro novo. Ademais, ele iria servir perfeitamente para o que eu precisava: o conteúdo estava intacto. Eu não precisava de nada além do conteúdo. Então por que fiquei tão decepcionada?
O problema não estava no segundo livro. Estava no primeiro. Eu fui supreendida com um livro novo, bonito, bem apresentável. Isso elevou minhas expectativas em relação ao segundo. A aparência me enlevou tanto que esqueci o conteúdo.
É assim que vejo a sociedade hoje. A mídia nos intope com valores puramente externos, de aparências belas e vida curta e insignificante. Poucos são aqueles que ainda valorizam o conteúdo em detrimento da aparência. No mínimo, exige-se ambos. E isso se estende aos relacionamentos, às aquisições materiais, às oportunidades religiosas. Toda a vida encontra-se permeada e influenciada por conceitos de consumismo, imediatismo, narcisismo e outros ‘ismos’.
A sociedade está assim, mas ela só permace desta forma porque os cidadãos permitem que isso aconteça. Creio ser importante que cada um de nós tenha a consciencia de que pode mudar a sociedade através da mudança de seu pensamento, sua mente. Se continuarmos valorizando mais a aparência, então chegará um dia em que o conteúdo será esquecido e os velhos valores que insitem em sobreviver hoje, enfim morrerão. E a morte destes valores será uma das mais tristes mortes da história da humanidade.

Tempo, tempo, tempo...