sexta-feira, 2 de outubro de 2009

SOBRE AS OLIMPÍADAS
Lia Silva Gomes
02/10/2009
As Olimpíadas são disputadas desde há muito séculos. Com origem na Grécia antiga, os jogos olímpicos eram frequentemente associados ao culto à beleza, à estética humana e, também relacionados com o culto aos mortos. Os jogos aconteciam de quatro em quatro anos na cidade de Olímpia - que, diferentemente do que afirma o senso comum, não fica aos pés do Monte Olimpo – onde havia um templo de dimensões magníficas, dedicado ao deus Zeus onde se realizavam os jogos esportivos. Era na cidade de Olímpia que os jogos atingiam sua plenitude, em organização e número de participantes, e onde se desenvolveram como competições regulares e de extrema importância para todos os helênicos. As mulheres não eram permitidas nos Jogos Olímpicos, não porque os atletas competissem nus, mas por que a cidade de Olímpia era dedicada a Zeus, sendo uma área sagrada para homens.
Zeus era deus dos deuses, do céu e da terra e senhor do Monte Olimpo que, na mitologia grega é a morada dos ‘Doze Deuses do Olimpo’, os principais deuses do panteão grego. Por aí habitarem, eles ficaram conhecidos como ‘Deuses Olímpicos’. Eles moravam em um imenso palácio de cristais, construído no topo do monte. Alimentavam-se de ambrósia e bebiam o néctar, alimentos exclusivamente divinos, ao som da lira de Apolo, do canto das Musas e da dança das Cárites. Apesar de não haver confirmação mitológica, supõe-se que os deuses olímpicos não ficavam exclusivamente no Olimpo, mais exerciam suas responsabilidades em outros locais, por exemplo, Hades que vive no mundo dos mortos.
Além de Zeus, os outros deuses olímpicos são: Hera: esposa de Zeus, deusa dos deuses, protetora do casamento; Poseídon: deus dos oceanos e mares; Hades: deus do mundo dos mortos; Atena: deusa da guerra justa, da justiça, da sabedoria; Apolo: deus do Sol, das artes e das profecias; Ártemis: deusa da lua e da caça; Afrodite: deusa do amor e da beleza; Ares: deus da guerra; Hefesto: deus do fogo e da metalurgia; Hermes: o mensageiro de Zeus, protetor dos ladrões e comerciantes; Dionísio: deus do teatro, do vinho e das festas. Além destes, havia também os chamados “Deuses menores”, que são: Deméter: deusa da agricultura; Eros: deus do amor; Héstia: deusa do fogo e da família; Éolo: deus dos ventos; Héracles: apenas depois de morto, foi aceito entre os olímpicos.
Ao perceber a agitação brasileira com a vitória do Rio de Janeiro para sediar as Olimpíadas de 2016, refresquei minha memória com a riquíssima mitologia grega e a história dos jogos Olímpicos. Não há como não se deslumbrar com tanta riqueza de detalhes em uma história tão longínqua. Mas como comparar a população da civilização helênica com a nossa atual? Muita coisa mudou, desde a cultura e desenvolvimento até os valores morais e espirituais. Os antigos eram regidos pela espiritualidade. Tudo que faziam era motivado pela transcendência. A espiritualidade era de cunho coletivo/social e não individual. Quando os homens iam participar dos jogos olímpicos, eles iam para adorar seus deuses e prestar-lhes culto. A multidão encantada e ocupada em ‘adorar’ não percebia as manobras políticas do imperador para continuar no poder.
Nas Olimpíadas de 2016 não teremos deuses mitológicos para venerar. O Brasil possui seus próprios deuses tão fortemente celebrados diariamente. Mas ouso arriscar-me e nomear alguns dos deuses que atualmente a humanidade consagra usando também o esporte como forma de culto. Certamente será adorado o deus Egoísmo, também conhecido como Egocentrismo, uma vez que os jogos são, em sua grande maioria, individuais. Para os esportes em grupo, é o deus Patriotismo que será homenageado. Há também o deus Orgulho, tão presente na vida cotidiana de todos nós. A deusa Arrogância, a Deusa Beleza, o deus Corpo (sarado!), a deusa Força, o deus Superação, a deusa Inveja, o deus Ciúme, o deus Auto-esforço, e outros tantos que você poderá reconhecer se prestar o mínimo de atenção. No final, temos tantos ou mais deuses do que aqueles que havia no Monte Olimpo.
Creio que o mais nocivo destes deuses é o ainda não citado, deus Dinheiro. Este está sempre aliado ao deus Poder. É impressionante o que o governo brasileiro está fazendo pelas Olimpíadas. Com vistas a obter a oportunidade de sediar os jogos Olímpicos, o governo prometeu injetar uma quantidade absurda de dinheiro na cidade do Rio de Janeiro. Os cariocas estão felizes, pois após os jogos, a infra-estrutura da cidade irá melhorar, o transporte público, a segurança e tantas outras melhorias de tirar o chapéu aos nossos representantes políticos! Ah, se não fosse por estas Olimpíadas, a população do Rio de Janeiro nunca poderia receber tantos benefícios! Mas não se iludam: isso tudo é por causa das Olimpíadas, não por causa da população carioca e fluminense! Quem sabe a sociedade deveria unir-se e agradecer aos deuses por tornarem nossos governantes tão generosos, a ponto de liberar tanto dinheiro para melhorias da cidade e benefício de meros cidadãos humanos!
Isso sem falar das manobras políticas que esse evento induz. Não é apenas investimento de dinheiro na capital fluminense. Também não é apenas o que o país irá lucrar com o turismo. Há muito mais em jogo. Há outros deuses mascarados rondando a política. Qual será a principal propaganda política do atual presidente daqui adiante? O que uma minoria de brasileiros vai ganhar com toda esta festa enquanto a maioria continua vivendo em condições miseráveis de sobrevida? Por que não é possível investir tanto dinheiro para acabar com a fome, miséria, falta de educação, de saneamento básico etc, mas é tão fácil empregar em construções megalomaníacas para abrigar desportistas? Mas o povo gosta. O povo quer. O povo aplaude. O povo voltará a votar no presidente popular. E a máxima dos cézares continua a valer no mundo hodierno: “Ao povo, pão e circo”.

O Vazio