domingo, 25 de abril de 2021

Um sábado durante a pandemia

 Era sábado à noite. Uma noite agradável e estrelada. 

O menino de 10 anos estava eufórico. Fazia mais de um ano que a pandemia havia isolado a população, e o menino não via a hora de sair novamente. 

A mãe estava levando-o para tomar um lanche em um food truck. Pararam em um dos trailers que servia hambúrguer e escolheram uma mesa no cantinho da calçada, o mais isolado possível. 

Sentados ao ar livre, o menino e a mãe fizeram seus pedidos e ficaram à espera. Conversaram sobre os programas de internet que o menino acompanhava, falaram sobre as aulas on-line, sobre os amigos internautas e riram de bobagens. Um momento único entre mãe e filho que tanto o menino quanto a mãe apreciavam cultivar.  

E então aquela jovem mulher aproximou-se da mesa deles, tímida. Segurava uma sacola plástica grande pendurada no braço.

- Boa noite, com licença. Posso atrapalhar um pouquinho? – E começou a tirar algumas caixinhas de sua sacola e colocou-as sobre a mesa enquanto explicava que, por causa da pandemia, estava sem trabalho, com 4 filhos para criar e por isso estava vendendo artesanatos que ela fazia e os filhos pintavam.

- Essa caixinha grande é 20,00 e essa pequena é 10,00.

A mãe sentiu o coração apertar. Sem muita esperança para poder ajudar, perguntou:

- A senhora aceita cartão?

O brilho sumiu dos olhos da jovem mulher.

- Não, senhora!

- Puxa, sinto muito! Eu estou só com o cartão aqui.

- Ah, tá bom, fica para a próxima então. – E foi guardando seus artesanatos novamente na sacola.

E então o menino se levantou dizendo:

- Eu acho que eu tenho dinheiro na minha carteira! Ainda bem que eu lembrei de trazer hoje, pois eu sempre esqueço, mas hoje ela vai servir para alguma coisa.

A mãe foi surpreendida. De onde o filho tinha dinheiro? Será que tinha mesmo? Será que não seria frustrado ao abrir a carteira e vê-la vazia?

Ele sofreu para tirá-la do bolso apertado, mas quando conseguiu, anunciou alegre:

- Eu tenho 4,00!

- Ah, filho! Então não dá, pois é 10,00!  - Orientou a mãe.

- Não, tudo bem, pode ser 4,00 sim! Não tem problema! – exclamou animada a mulher.

- Mas não vai te deixar no prejuízo?

- Não, imagina! É tão linda a disposição dele!

Ela pegou o dinheiro que ele lhe ofereceu, deixou-o escolher a caixinha e despediu-se com um sorriso enorme no rosto dizendo à mãe:

- Parabéns por seu filhão, viu?

A mãe olhou para o menino com as lentes daquela mulher e não pode deixar de sorrir. Que coração lindo aquela criança de 10 anos mostrara naquele momento.

Talvez também por isso Jesus tenha alertado que só entrará no Reino dos céus aqueles que tiverem o coração puro como o de uma criança. 

E aquela foi a melhor noite de sábado que tiveram até aquele momento durante a pandemia.


Por Lia Silva 

24/04/2021

Tempo, tempo, tempo...