É quando precisamos mudar de casa que percebemos a
quantidade de tralha que juntamos ao
longo do tempo. Eu já passei por esta experiência várias vezes. Não digo
“várias” por se tratar de algumas vezes, mas de inúmeras. Não só mudei de casa,
mas de cidade e de estado por mais de uma vez. Já morei em duas cidades do Rio
Grande do Sul, em duas no Paraná, em duas em São Paulo e no Distrito Federal. A cada mudança eu percebia que o número de caixas com meus pertences aumentava.
Há algumas coisas que acumulamos pelas quais nutrimos sentimentos de apego e livrar-se de papéis velhos pode tornar-se motivo
de crise interna. Sempre gostei de escrever
e por conta desta paixão acumulei algumas caixas apenas com diários. Nunca
tive coragem de descartá-los pois
pensava que eles eram parte da minha vida e tudo que fiz ao longo dos anos foi
aumentar o número de cadernos dentro das caixas. A cada mudança que eu fazia lá
iam junto os diários, como testemunhas de minha vida pregressa.
Esta é a primeira vez que eu mudo de casa e tenho móveis totalmente novos.
Enfim estou mudando para uma casa “nova” de verdade, com tudo novo dentro.
Ao desencaixotar meus pertences cheguei às caixas dos diários e imediatamente
uma dúvida surgiu: não é hora de se desfazer disso? Pensando sobre o assunto e
tomando coragem para me desfazer do passado que ali estava grafado, enfim
percebi que minha vida mudou muito. Ao reler algumas páginas de alguns daqueles
diários senti que lia sobre a história de outra pessoa. Era a história de
uma menina insegura, que saiu cedo da casa dos pais, que fez escolhas erradas,
que sentia-se sozinha e assustada e que buscava desesperadamente ser amada e
aceita.
Definitivamente não era mais eu. Era a história do meu passado, a quem eu estava agarrada. Subitamente, não vi mais razão para guardar tantas memórias escritas
de algo que me fez sofrer. Olhei ao redor e vi minha casa nova, percebi minha
nova vida e, enfim, foi fácil desfazer-se dos diários.
Há alguns sentimentos, por vezes indefinidos, que nos
amarram ao passado com a força de correntes. Não é necessário regar o passado
para se ter um presente feliz. Mas é preciso soltar o passado para que tenhamos
um futuro valioso. Agora entendo que jogar os diários fora não é sinônimo de
desvalorizar meu passado. Se hoje sou alguém a quem amo é porque vivi tudo o
que vivi. Não menosprezo o passado, apenas deixei de cultivá-lo como necessário
para o meu presente.
Nada
como uma casa nova para nos mostrar que podemos ser pessoas novas a cada dia.
Basta querer. Ou como diz o livro
Sagrado: “Basta a cada dia o seu mal”. Não é necessário cultivar os males do
passado. Eles devem ficar lá, no lugar deles, onde não moramos mais. Afinal, a
vida é feita de mudanças. Graças a Deus!