quarta-feira, 26 de setembro de 2012

E viva as mudanças!


É quando precisamos mudar de casa que percebemos a quantidade  de tralha que juntamos ao longo do tempo. Eu já passei por esta experiência várias vezes. Não digo “várias” por se tratar de algumas vezes, mas de inúmeras. Não só mudei de casa, mas de cidade e de estado por mais de uma vez. Já morei em duas cidades do Rio Grande do Sul, em duas no Paraná, em duas em São Paulo e no Distrito Federal.  A cada mudança eu percebia que o número de caixas com meus pertences aumentava.
Há algumas coisas que acumulamos pelas quais nutrimos sentimentos de apego e livrar-se de papéis velhos pode tornar-se motivo de crise interna.  Sempre gostei de escrever e por conta desta paixão acumulei algumas caixas apenas com diários. Nunca tive  coragem de descartá-los pois pensava que eles eram parte da minha vida e tudo que fiz ao longo dos anos foi aumentar o número de cadernos dentro das caixas. A cada mudança que eu fazia lá iam junto os diários, como testemunhas de minha vida pregressa.
Esta é a primeira vez que eu mudo de casa e tenho móveis totalmente novos. Enfim estou mudando para uma casa “nova” de verdade, com tudo novo dentro. Ao desencaixotar meus pertences cheguei às caixas dos diários e imediatamente uma dúvida surgiu: não é hora de se desfazer disso? Pensando sobre o assunto e tomando coragem para me desfazer do passado que ali estava grafado, enfim percebi que minha vida mudou muito. Ao reler algumas páginas de alguns daqueles diários senti que lia sobre a história de outra pessoa. Era a história de uma menina insegura, que saiu cedo da casa dos pais, que fez escolhas erradas, que sentia-se sozinha e assustada e que buscava desesperadamente ser amada e aceita.
Definitivamente não era mais eu. Era a história do meu passado, a quem eu estava agarrada. Subitamente, não vi mais razão para guardar tantas memórias escritas de algo que me fez sofrer. Olhei ao redor e vi minha casa nova, percebi minha nova vida e, enfim, foi fácil desfazer-se dos diários.
Há alguns sentimentos, por vezes indefinidos, que nos amarram ao passado com a força de correntes. Não é necessário regar o passado para se ter um presente feliz. Mas é preciso soltar o passado para que tenhamos um futuro valioso. Agora entendo que jogar os diários fora não é sinônimo de desvalorizar meu passado. Se hoje sou alguém a quem amo é porque vivi tudo o que vivi. Não menosprezo o passado, apenas deixei de cultivá-lo como necessário para o meu presente. 
Nada como uma casa nova para nos mostrar que podemos ser pessoas novas a cada dia. Basta querer.  Ou como diz o livro Sagrado: “Basta a cada dia o seu mal”. Não é necessário cultivar os males do passado. Eles devem ficar lá, no lugar deles, onde não moramos mais. Afinal, a vida é feita de mudanças. Graças a Deus!

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