quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

O Evangelho para Incapazes - ou, abraçando a própria miséria

O Cristianismo, na visão da maioria, trata-se de sermos um homem bom.

Pior do que isso: muitos cristãos caminham, pela fé, e com muito zelo, na confiança de que ser cristão é ser um homem bom.

Eu, particularmente, me vi livre de um enorme fardo quando percebi que o Cristianismo não é, primariamente, sobre ser um homem bom.

O Cristianismo é, na verdade, sobre seguir o único homem bom que já houve: o Homem Deus.

O próprio Homem Deus disse que não era bom enquanto apenas homem.

SE JESUS FOR TIDO COMO UM MESTRE DA MORAL, APENAS, ELE FRACASSA COMO SALVADOR.

No entanto, como Homem Deus, Jesus Cristo mostrou explicitamente que veio nos expor a todos e a cada um de nós por aquilo que realmente somos:
CRIATURAS DE DEUS TOTAL E ABSURDAMENTE INCAPAZES DE SERMOS QUEM O NOSSO CRIADOR PLANEJOU QUE FÔSSEMOS.

Os cristãos que buscam ser bons e não têm essa convicção farão esforços que, por mais nobres que sejam, não os tornam participantes da morte de Cristo.
O problema sutil neste ponto é o seguinte: o Apóstolo Paulo ensinou que, se não morro com Cristo, também não viverei com Ele.

E como morrerei, se não me enxergar e declarar a respeito de mim mesmo que toda esperança é nula?

Que todo meu esforço é inútil?

Que muitas das minhas boas obras são como um trapo fedorento na presença do Deus que é Santo, Perfeito, Justo e Bom, e que não aceita nada menos do que a perfeição?

É por isso que Jesus ensinou que, se não nascermos de novo, não teremos lugar à mesa, no Grande Banquete.

E como pode nascer de novo aquele que não quer morrer?

Jesus contou algumas parábolas que ilustram a diferença entre quem abraça a própria miséria e quem apenas segue a jornada em busca do que é bom.

Em uma delas, fala-se de um Rei que programou uma grande festa de casamento para seu filho.

Ao distribuir os convites, cada um dos convidados de honra deu uma desculpa e seguiu com seus próprios afazeres.

Tais afazeres são bons - comprar um terreno, fazer negócios, casar-se; não há pecado neles.

Mesmo assim, o Rei fica irado e ordena que seus servos saiam pelas ruas e convidem a todos que encontrarem pela frente - cegos, aleijados, gente pobre, sem instrução -, todos eles incapazes de atender aos requisitos de fazer parte de uma festa tão importante.

A provocação de Jesus foi direcionada, nesse caso, aos judeus, que se sentiram confortáveis por serem o povo escolhido de Deus, os possuidores da Lei.

Mas o que muitos judeus estavam deixando passar é o fato de que Jesus, o Cristo prometido, veio buscar doentes.

Jesus disse que os sãos não precisam de médico.

Ao caminharmos, como cristãos, na confiança de que o Cristianismo é o caminho da virtude antropocêntrica, negamos o Evangelho de Cristo.

Negamos o que podemos chamar de Evangelho para incapazes.

Quem dera a gente enxergar e abraçar nossa miséria tão abertamente quanto a prostituta que, diante de tantos "homens bons" não teve medo de se humilhar aos pés empoeirados de Jesus, o Homem Deus, com lágrimas e beijos de gratidão.

Quem dera Jesus pudesse falar de nós como falou dela: "a quem muito é perdoado, muito amará".

Mas se seguimos na busca falida do "ser bom", talvez pouco veremos do perdão de Deus, e pouco iremos amá-Lo de volta.
Texto de Cesar Boiatto

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