Não sei o que pode ser comparada à frustração de ouvir "não chora,
logo passa" ou "não fica triste, vai passar" quando você procura
alguém pra desabafar e tudo que consegue é essa falta de empatia.
Ora, a tristeza e as lágrimas fazem parte da vida do ser humano. Dizer para alguém não sofrer quando há motivos, é o mesmo que pedir para não ser humano.
Às vezes tenho a impressão de que vivemos em uma sociedade que
praticamente nos obriga a ser feliz o tempo todo.
Se alguém nos vê triste,
logo se acha na obrigação de fazer a gente sorrir e há quem apele para Deus: “Deus
não gosta de filho triste!”
Muitos acreditam piamente que vieram a este mundo
com o único objetivo de ser feliz e, no intuito de realizarem este plano, negam
a própria humanidade.
É saudável chorar, permitir que a dor saia do peito lavando a alma e
aliviando-a.
Se não tenho permissão para ficar triste e chorar, essa dor
vira doença física e serei escrava dela por longo tempo.
O texto sagrado ensina que “o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Salmo 30:5).
A tristeza e o choro que são saudáveis trazem grande
alívio e preparam o terreno do coração para o plantio de novas sementes de
alegria.
Se você ainda não assistiu ao filme infantil 'Divertidamente' sugiro que o
faça prestando bastante atenção no papel da personagem Tristeza.
Toda a trama
final só é possível por causa da atuação dela na vida da personagem principal.
A própria Alegria acaba reconhecendo que, sem a Tristeza, o sucesso final não teria
sido possível.
Entendo que é necessário que a gente treine a arte de escutar e ser
empático.
Quando alguém nos procurar para chorar, o melhor que podemos fazer é
ouvir, chorar junto, se necessário, ser um facilitador para que a dor escoe de
dentro do coração para fora.
É hora de deixar pra trás o discurso triunfalista
e aceitar que nem todos os dias são de sorrisos, que é permitido chorar e,
assim que a dor tiver saído pelas lágrimas, o sorriso brotará espontaneamente,
sem precisar que outros fiquem dizendo: sorria! Ou: para de chorar!
Sugestão de leitura sobre o tema:
Felicidade ou Morte, escrita conjunta de Leandro Karnal, Mario Sérgio Cortela e Clóvis de Barros Filho.