terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Ouça seu coração (???)

“O que diz seu coração?”

“Siga o teu coração.”

“Ouve o que teu coração tá dizendo.”

Quem nunca ouviu ou deu tais conselhos?

Mas quem determinou que o coração é o melhor conselheiro? 

Quem garante que ele está certo? 

Se analisarmos todas as vezes que obedecemos aquilo que nosso coração sugeriu, em quantas delas os resultados foram positivos?

Em quantas delas não foram?

Immanuel Kant, filósofo prussiano, entende que viver fazendo escolhas sob o efeito dos sentimentos é ser amoral, uma vez que os afetos são produtos da natureza e não da escolha. 

Para ele, a real liberdade só pode ser experimentada quando agimos debaixo do cetro da razão. 

O livro sagrado dos cristãos também aponta para isso: 

Enganosos é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o poderá conhecer? ( Jeremias 17:9)

Se para decidir sobre algum assunto eu apelo às emoções, logo não tenho liberdade de escolha, pois meus sentimentos me controlarão. 

Os sentimentos não nascem de nossa vontade, pelo contrário, eles são espontâneos. 

É comum vivenciarmos experiências em que nosso sentimento e nossa razão não conversam entre si, ou, pior do que isso, discutem, discordam e ficamos sem saber o que fazer. 

Se conseguimos decidir baseados em nossas escolhas racionais e não afetivas, então sim somos livres, porque temos o poder de agir contra nosso sentimento.

Talvez seja por esta falta de compreensão que há tantos relacionamentos se desfazendo. 

Os casais costumam viver juntos enquanto há sentimento, enquanto a paixão os domina. 

Como que sob o efeito desta, vivem felizes enquanto o sentimento dura. 

Quando o sentimento acaba, com ele o relacionamento também. 

Mas não é a paixão que deve sustentar um relacionamento. É a maneira de se relacionar que vai permitir – ou não – que o sentimento seja transformado em amor. 

Amor não é um sentimento, ele é mais maduro e estável do que isso. 

Amor é aquilo que do sentimento se solidifica e que vai para o racional fazendo o casal concordar que vai permanecer junto fazendo bem um ao outro.

Sentir não é ruim. Pelo contrário, é se permitindo experimentar o sentimento que nos tornamos aptos a decidir. 

O problema surge quando nos deixamos dominar pelos sentimentos e vivemos nossas vidas flutuando, vagando neles sem um rumo certo, sem controle das emoções e sem saber ao certo aonde queremos chegar. 

Seria o estilo “deixa a vida me levar”, quando qualquer lugar serve.

Mas, quando sabemos o que queremos, então não somos dominados pelos sentimentos, mas os dominamos para que racionalmente cheguemos ao nosso destino. 

Sobre os efeitos da paixão no cérebro, por favor, pesquise o trabalho do Professor Pedro Calabrez (https://www.facebook.com/prof.calabrez).

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Ela sobrava e transbordava

Ela oferecia mais do que amor,

Ela tinha carinho, cumplicidade, ternura.

Ela não conhecia limites para oferecer o que tinha.

Ela não minimizava o doar-se.

Mas ele não quis.
Teve medo.

Olhou para os próprios limites, e neles escondeu-se.
Decidiu deixá-la ir.

Não tentou vencer suas próprias barreiras.

Não pediu por compreensão.

Sequer demonstrou perceber que não sabia ser amado
Magoou-a propositadamente e ela partiu.

Ela partiu inteira.
Consciente que estava de suas ofertas,

De seus limites ou da falta deles.

Ela nada perdeu.

Seguiu pela estrada da vida distribuindo o que lhe sobrava

Com aqueles que queriam ser amados por ela.

E ele?
Continua encolhido na caverna da autopiedade.

Saboreando sua triste solidão.

Mastigando ressentimentos.

Desprezando o amor e imune até de si mesmo.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Mulher ao centro da vida

"Chegou ao meio da vida e sentou-se para tomar um pouco de ar. 

Não sabia explicar.  

Não era cansaço, nem estava perdida. 

Notou-se inteira pela primeira vez em todos esses anos.

Parou ali, entre os dois lados da estrada e ficou observando as margens da sua história, a estrada da vida ficando fininha, calando-se de tão longe que ia.  

Estava em paz observando a menina que foi graciosa, cheia de vida. 
Estava olhando para si mesma e nem notou.
 Ali, naquele instante estava recebendo um presente. 
Desembrulhava silenciosamente a sabedoria que tanto pediu para ter mais.

Quando a mulher chega à metade da estrada da vida, começa lentamente a ralentar o passo. 

Já notou como tem gente que adora conturbar a própria rotina, alimentar o próprio caos? 

Ela não.
Não mais.

Deixa que passem, deixa que corram, a vida é curta demais para acelerar qualquer coisa. 

Ela quer sentir tudo com as pontas dos dedos, ela quer notar o que não viu da primeira vez. 

Senhora do seu próprio tempo.

Percebeu, à metade da vida, que caminhou com elegância, que viveu com verdade, que guiou a própria sombra na estrada em direção ao amor. 

E como amou! 

Amor por si, pelos outros, amou em dobro, amou sozinha, amou amar. 

A mulher ao centro da vida traz a leveza que os anos teceram, pacientemente. 

Escuta bem mais, coloca a doçura à frente das palavras, guarda as pessoas com preciosismo. Aquela mulher já perdeu pessoas demais.

Ao meio da estrada, ela já não dorme tanto, mas sonha bem mais. 

Sonha pelo simples exercício de sonhar. Sonha porque notou que é o sonho que tempera a vida. 

Aprendeu a parar de ficar encarando as linhas do corpo. Seu espírito teso, seu riso aberto, sua fé gigante não têm rugas, nem celulite, sem encanação. 

Descobriu que o segredo é prestar atenção no melhor das coisas, nas qualidades das pessoas, nas belas costas que tem e deixá-las ao alcance da vista dos outros.

Sentada ali, ao centro da própria vida, decidiu seguir um pouco mais.

Há mais estrada para caminhar, mais certezas para perder, mais paixão para trilhar. 

Não há dádiva maior do que compreender-se, que encontrar conforto para morar em si mesmo, que perdoar-se de dentro pra fora. 

Ao centro da vida ela descobriu que a gente não se acaba, a gente vai mesmo é se cabendo, a cada ano um pouco mais."

Texto de Diego Engenho Novo

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Uma segunda-feira qualquer


E a segunda-feira começou chorosa

Lágrimas que transbordam nos olhos

Refletem na vidraça a chuva que insiste em cair lá fora

Aqui dentro o coração dorido

As velhas feridas abertas novamente

A dor da rejeição

Pisando o amor próprio

Dilacerando conceitos ainda embrionários

A dor ejacula nas lágrimas

E tal qual a chuva na grama lá fora

Irriga o coração ressecado

Lágrimas que regam meu jardim ...

E a segundona passa ...

E as lágrimas vão purificando a alma

E as amizades se aproximam com seu poder curativo

E o dia enfim, termina feliz ...

Com cheirinho de sopa quentinha

E a gratidão invade

E a chuva se foi

E os brotos de esperança nascem

E a vida é bela

E já não são lágrimas de dor

É o suor da luta que ganho todos os dias.

sábado, 30 de setembro de 2017

Reciprocidade

Ela não almeja luxo

Não se importa se ele anda de ônibus
Ou com o carro do ano.

Ela não espera jantares requintados
Ou restaurantes caros.

Sua alma quer ser amada
Simplesmente amada

Almeja o olho no olho
Os suspiros repetidos na orelha

Deseja confiar-lhe o coração
Sem temer a deslealdade

Ela quer segurar a mão dele
Durante a caminhada

E beijar o sorriso desprevenido
Ela quer ter o primeiro e o último beijo do dia

E descansar em seu peito após o amor

Ela arde para entregar-lhe o corpo
Ela anseia para que lhe tomes a alma

Ela quer que nos detalhes simples do cotidiano

Ele saiba que é amado

E que há reciprocidade

Ela só quer ser amada

Ela só quer amar.

Ela quer ver o por do sol através dos olhos dele

E falar de filosofia como fala

Das safadezas e peripécias do amor

Ela quer pousar em seu olhar

E ali fazer morada

Nadar sem pressa e sem medo

Em sua boca e alma

Quer confiar o coração em suas mãos

Enquanto segura o dele entre os próprios dedos

Ela quer ouvir seus gemidos resultantes do prazer

E fazê-lo perder-se no êxtase

Para depois reencontrá-lo em seus braços

Encontrar-se e perder-se dia após dia

Numa dança segura de amor

Ela só quer ser amada

Ela só quer amar.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Para viver bem os agostos ...

Só quem vive bem os agostos é merecedor da primavera!

Lembro-me bem. Foi quando julho se foi, que um vento mais gelado, mais destemperado, que arrastava ainda folhas deixadas pelo outono, me disse algumas verdades. 

Convenceu-me de que o céu começaria a apresentar metamorfoses avermelhadas.

Que a poeira levantada por ele daria lições de que as coisas nem sempre ficam no mesmo lugar e que é preciso aceitar que a poeira só assenta depois que os redemoinhos se vão.

Foi quando julho se foi que a minha solidão me convidou para uma conversa. 

E me contou de tempo de esperas.

E me disse que o barulho das árvores tinha algo a dizer sobre aceitação.

E eu fiquei pensando como elas, as árvores, aceitam as estações que, se as estremecem, também lhes florescem os galhos. 

Mas tudo a seu tempo. 

Foi em agosto que descobri que os cachorros loucos são, na verdade, os uivos que não lançamos ao vento. 

São nossos estremecimentos particulares que a nossa rigidez de certezas não nos permite encarar.

O mês de agosto tem muito a ensinar. Porque agosto é mês jardineiro, é dentro dele, berço do inverno, que as sementes dormem. 

Aguardam seu tempo de brotar. Agosto é guardador da boa-nova, preparador de flores. 

Agosto é quando Deus deixa a natureza traduzir visivelmente o tempo das mutações.

Mude, diz agosto, em seu recado de sementes. Aceite, diz agosto, com seu jeito frio de vento que levanta poeira e a faz avermelhar o céu. 

Compartilhe, diz agosto. Agasalhos, sopas quentinhas, cafés com chocolate, abraços mais apertados – eles também aquecem a alma e aninham o corpo. 

Distribua mais afetos, que inverno é acolhimento, é tempo de preparar setembro. 

E, de setembro, todos sabemos o que esperar. Esperamos a arrebentação das cores, que com seus mais variados nomes vêm em forma de flores.

Vamos apreciar agosto, recebê-lo com o espanto feliz de quem não desafia ventos. Que ele desarrume e espalhe suas folhas e levante suas poeiras.

Aceite as esperas, mas coloque floreiras na janela.

Só quem vive bem os agostos é merecedor da primavera!

Miryan Lucy de Rezende
Escritora e Educadora Infantil

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Markus Zusak e Marco André Regis

Essa semana eu terminei de ler "A menina que roubava livros" (Markus Zusak). Eu ainda não assisti o filme. 

Nem sei se quero assisti-lo. Os filmes acabam reduzindo o que há de mais belo nos livros.

Gostei da história, mas o que mais chamou-me a atenção foi a narradora Morte. 

Fiquei impressionada com o dom que ela tinha de ver beleza em meio a um mundo de guerra, e de seres humanos tão maus e mesquinhos. 

No cenário da 2ª Guerra Mundial a Morte podia ver cores vibrantes nos homens e na natureza, enxergava a bondade em alguns seres humanos de quem ela carregava as almas. 

A Morte era capaz de reconhecer a beleza da vida. A beleza do mundo. 

Provavelmente minha lente para esta leitura estava impregnada pela teoria de Marco André Regis em sua obra A Magia Erótico-Herética de Rubem Alves, e vi a Morte encontrando a beleza do divino em meio ao caos! 

É possível que nós tenhamos esta mesma visão que a Morte teve na obra de Markus Zusak? 

Somos capazes de ver a beleza e reconhecer o divino mesmo em meio ao caos e à maldade?

 


A obra de Marco André Regis citada acima pode ser adquirida no seguinte endereço:
https://www.kobo.com/us/pt/ebook/a-magia-erotico-heretica-de-rubem-alves

Texto escrito em 23 de maio de 2015


segunda-feira, 20 de março de 2017

Vale Sombrio


“Mesmo que eu ande pelo vale escuro, onde a morte está bem perto, continuo tranquilo e não sinto medo, porque a sua vara e o seu cajado me protegem!” Salmo 23:4

Você já ouviu este salmo, não é mesmo?

Desconfio que todo cristão já o tenha ouvido em algum momento.

Eu mesma o decorei ainda criança e sempre soube recitá-lo a qualquer momento.

No entanto, fico me perguntando sobre o quanto estas palavras fazem sentido para quem as conhece?

Quantos de nós já experimentamos em nosso cotidiano o cuidado desse Pastor?

Quantos já sentimos e percebemos a presença dele enquanto andávamos pelo vale sombrio?

Recentemente eu descobri o poder desta palavra.

Caminhando pelo vale sombrio das lágrimas e lamentando meu destino, de repente, o Pastor usa seu cajado para reorientar-me no caminho.

Ele sussurrou suavemente ao meu ouvido: “não temas enquanto passa por este vale de sombras, eu estou contigo, eu não te abandonei, eu estou aqui pronto para te consolar”.

Foi o refrigério que minha alma precisava naquele momento.

Eu abri os olhos e compreendi: “uau! Então é isso que significa este salmo?”

Sentir a presença dele enquanto eu andava pelo vale trouxe refrigério à minha alma.

Não, a dor não foi embora, eu não saí do vale, mas a certeza de que Ele estava comigo mudou toda a perspectiva daquele caminho.

Ele já não era mais sombrio porque eu não estava sozinha.

Eu não temia mais o desfecho daquele caminho porque a vara dele estava a postos para me defender de todo mal.

O seu cajado estava estendido em minha direção a fim de que eu não me perdesse em meio às lágrimas.

Nada pode trazer mais consolo do que a certeza da presença do Pastor durante a jornada.

Nossas escolhas podem nos levar para caminhos tortuosos, podemos nos ferir e cair.

Mas se nossos olhos estiverem fixos no Pastor de nossa alma, qualquer percurso, mesmo aquele dentro do vale da sombra da morte, será feito em segurança porque nosso Pastor nos ama e não nos abandona.

O vale sombrio pode ser extremamente revelador em nossa caminhada cristã.

É durante o percurso que descobrimos que Deus é real, que a Sua palavra é verdadeira, que podemos confiar Nele, pois Ele é o único capaz de ser Fiel até o fim da jornada.

domingo, 19 de março de 2017

"Endireitar as veredas" dói

"Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento. Reconhece-o em todos os teus caminhos, e ele endireitará as tuas veredas." Provérbios 3:5-6

Endireitar as veredas pode significar um caminho com dor. 

É possível que nem sempre percebamos que estamos andando por veredas tortas. 

Caminhamos e entendemos que estamos indo pelo caminho correto, até que, em determinada esquina da vida, o chão nos falta. 

Só então percebemos que em algum cruzamento nós nos desviamos do caminho que Deus preparara para que trilhássemos. 

Em algum cruzamento nós preferimos nossa própria vontade e passamos a seguir na direção errada.

Mas, quando de fato queremos Deus e o buscamos sinceramente, Ele vai endireitar nossas veredas e isso pode significar perder o que mais amamos, se nós amamos isso mais do que a Deus. 

Endireitar as veredas pode significar cair com a boca no pó e engolir a amarga poeira. 

Pode significar muita dor e lágrimas. Mas também significa ter Deus bem ao lado, segurando nossa mão enquanto levantamos, limpando nossas feridas enquanto com Ele seguimos. 

Saber que Deus está interessado em endireitar nossas veredas, mesmo que isso nos cause dor, é motivo de júbilo, pois mostra que Ele não desistiu de nós e nos quer ao lado dele enquanto caminhamos, mesmo que entre os espinhos da vida. 

Se confiamos nele, se de fato vivemos de acordo com a fé de que Ele está conosco, então pouco importa se dói ou não, mas se Ele está conosco. 

E Ele disse que estaria. Basta confiar e caminhar pelas veredas endireitadas.

Estamos nós dispostos a trilhar pelo novo caminho?

Estamos dispostos a deixar as coisas velhas para trás e seguir com Ele em novidade de vida?

Tempo, tempo, tempo...