sábado, 14 de novembro de 2020

Espiritualidade em sociedade

Jesus foi um ser social. Ele se misturava com as pessoas e mostrava sua espiritualidade imerso na sociedade. O trecho narrado por João em seu evangelho (2:1-11) sobre o casamento em Caná ilustra com riqueza essa verdade.

Viver a espiritualidade em meio à vida social é o oposto do monasticismo. Para ser espiritual, não é necessário nos isolarmos em monastérios, em igrejas, em guetos, em comunidades. A espiritualidade proposta por Jesus é aquela que acolhe, convive e coexiste.

Além disso, Jesus estava sempre atento à situação ao seu redor. Jesus não veio ao mundo para salvar casamentos, sua missão não era atender os pedidos de sua mãe, nem veio para transformar água em vinho, muito menos para multiplicar pães ou curar doentes. No entanto, ao conviver em sociedade, ele prestou atenção em suas necessidades e foi sanando-as uma a uma. Discretamente, ele ia ajudando onde era necessário. Ele estava atento, sensível aos problemas, prestando atenção às dores e curando, alimentando, libertando, aliviando.

 Portanto, como discípulos deste Cristo - que é um ser sociável e engajado com aqueles com quem convive - eu também preciso aprender a desenvolver minha espiritualidade enquanto coexisto e convivo com meus semelhantes. Preciso apurar minha sensibilidade para as necessidades que me cercam e fazer o que posso para ajudar. Minha espiritualidade será saudável quando eu estiver atento ao ambiente social onde estou inserido e vou, gradativamente, melhorando-o. Amar pessoas é auxiliá-las em suas necessidades. Relacionar-se com as pessoas em seus ambientes é exercer espiritualidade. Estar fechado dentro de uma igreja, cantando e pregando de olhos fechados, não é a proposta de Cristo.

Encerro essa reflexão com uma parte da letra da canção “Em nome da Justiça”, de João Alexandre:

Quem conhece a Deus não pode ouvir e se calar
Tem que ser profeta e sua bandeira levantar
Transformar o mundo é uma questão de compromisso
É muito mais e tudo isso

Enquanto o domingo ainda for nosso dia sagrado
E em nome de Deus se deixar os feridos de lado
Enquanto o pecado ainda for tão somente um pecado
Vivido, sentido, embutido, espremido e pensado

Enquanto se canta e se dança de olhos fechados
Tem gente morrendo de fome por todos os lados
O Deus que se canta nem sempre é o Deus que se vive, não
Pois Deus se revela, se envolve, resolve e revive.

 

 

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