O ano é 2013. O mês é outubro, o que significa que meu filho acabou de completar 3 anos. É o primeiro ano dele na escola e o primeiro mês naquela escolinha em específico. As adaptações estão acontecendo lentamente, tanto para ele quanto para mim.
Faz poucos dias que ele parou de pedir que eu ficasse com ele na escola e parou de chorar no portão na hora de entrar. Nos primeiros dias a coordenadora pediu-me que entrasse com ele e o acompanhasse até a sala para facilitar a adaptação à nova escola e amiguinhos. Aos poucos, minha entrada foi ficando mais curta, já não ia até a porta da sala, ficava no meio da calçada e, finalmente, apenas no portão. Durante alguns dias ele chorou bastante, agarrava-se a mim e não queria entrar, mas acabou entendendo e já não chora mais. Ele até avisa:
- Sabe mãe, hoje eu
não vô chorá pa ficá na ixcola.
E não tem chorado
mesmo. A professora que está no portão pega a mochila dele, segura em sua mão e
o acompanha até a sala. Ele se afasta com um sorriso e vai acenando para mim. Mas, hoje foi diferente e quem chorou foi a mãe dele. A professora pegou a mochila, colocou-a nas costas dele e disse-lhe:
- Pode ir Dado, a
tia Pri tá lá na sala esperando você.
Ele me olhou
triste, eu estava do lado de fora do portão. Sorriu timidamente, acenou e foi
andando pela calçada que leva ao interior do prédio. A visão do meu menininho
sozinho, andando com a mochila nas costas e aquele sorrisinho cortou meu
coração. Pensei:
“Tadinho, está
sozinho!” – Mas ele pareceu não ligar muito. Foi andando devagar e eu não
consigo parar de pensar naquela cena de um caminhar solitário. Tive a sensação de que aquela seria a primeira vez que meu menino
enfrentaria o mundo sem mim. Tive ímpetos de ir ao encontro dele, segurar-lhe a
mão e acompanhá-lo. Sei que isso o faria feliz, mas entendi que aquela seria só a primeira caminhada
independente da vida dele. Ele precisará enfrentar muitas outras ao longo de sua
história. Naquele momento experimentei o que milhares de mães ao redor do mundo experimentam: senti-me dividida
entre o querer e o dever.
Fico me
perguntando se algum dia este sentimento de querer participar de cada passo dos
filhos acaba. Creio que não. Há momentos em que caminhar ao lado deles,
segurando-lhe a mãozinha, é benéfico e positivo, mas há momentos em que é
necessário para a saúde emocional deles que lhes soltemos a mão e os deixemos
caminhar sozinhos, que façam as próprias descobertas, enfrentem seus medos.
Mesmo que a gente fique olhando de longe com lágrimas escorrendo pelos olhos e
um aperto sem fim no peito.
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