quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Homem e mulher os criou


“...Homem e mulher os criou (...) e viu Deus que era muito bom.”
Gn. 1:27; 31

Há algum tempo que certo assunto me incomoda. Tenho pensado já há alguns anos no papel que homem e mulher desempenham na sociedade atual. Tenho a sensação que estamos perdidos no vácuo da relatividade. Somos todos iguais, temos os mesmos direitos, os mesmos deveres e a mesma infelicidade. Todos queremos ser felizes, ou, esperamos encontrar a felicidade no relacionamento e, por conta disso, trocamos de parceiro na mesma inconsequência que trocamos de roupa.
O que está errado? Por que não vemos mais casamentos estáveis como na época de nossos avós? Tudo bem, você poderá argumentar que os casamentos eram para manter as aparências ou simples transações comerciais, que o casal não se amava de verdade. Mas existia respeito entre eles, existia uma cadeia de submissão a ser seguida. E tenho a sensação que, de modo geral, as pessoas eram mais realizadas que hoje. Isso não é nostalgia ou saudosismo não. É fruto de uma reflexão dos relacionamentos descartáveis modernos.
Sou uma observadora compulsiva. Não sou muito de passeios em lugares onde encontrarei multidões, mas as vezes vou à shopping centers unicamente para observar comportamentos. Fico pasma com o que vejo. Especialmente com certas atitudes femininas. Mulheres controladoras, mimadas, que não dão liberdade ao companheiro de tomar decisões (nem sobre onde poderiam tomar o café). Elas decidem tudo, tomam a frente sempre e aos homens só lhes resta se submeter à mão da mulher e ser arrastado para onde ela quer. Em alguns, só falta a coleira.
Não estou dizendo que as mulheres estão erradas. Estão simplesmente respondendo aos estímulos que recebem da sociedade: a mulher tem que ser independente, não deve obedecer ninguém além do seu próprio coração – nem o pai escapa – demonstrar dependência é fraqueza e a mulher deve ser forte: “Tá pra nascer homem que vai mandar em mim!” E lá vai ela trocar desde lâmpada até pneu de carro, carregar as 50 sacolas do supermercado e arrumar o motor do carro quando empurrar não resolve mais.
O homem, por sua vez, não faz questão de tomar sua posição, de ocupar seu lugar e função de homem na sociedade: “Já que elas querem independência, deixa que sejam!” E nem sabem mais o que é abrir a porta do carro, entram primeiro, ficam felizes quando elas se oferecem para pagar a conta e acham ruim porque elas ainda insistem em pedir algumas coisas para eles. Sentem-se ameaçados pelo ímpeto feminino e preferem ficar encolhidos no canto para vê-las fazer tudo. Se os homens fossem ensinados de que é másculo tomar a iniciativa e liderar, não haveria falta de liderança masculina na sociedade em geral.
Mas não foi para isso que fomos criados. Especialmente se amamos a Deus e queremos servi-lo. O relacionamento entre homem e mulher deve causar impacto na sociedade. Casais que amam a Deus devem refletir este amor no seu modo de conviver. O homem deve ser um homem Masculino e a mulher precisa ser uma mulher Feminina. O perfil masculino cristão é de grande importância na formação de garotos e garotas, no sucesso dos casamentos, na efetividade da missão da Igreja no mundo e na sociedade.
Homens e mulheres são iguais “...homem e mulher os criou.” (Gn.1:27) Sem dúvida, eles não foram feitos para serem exatamente iguais. Deus criou o homem em sua melhor forma – Adão. Ele, sendo criado pelo Criador Perfeito, era o compêndio da verdadeira masculinidade, no entanto, pouco tempo depois da criação de Adão, sua alma e corpo foram gravemente afetados por sua escolha de pecar. A raça humana escolheu ser independente de Deus.
Na história ocidental mais recente, o crescente relativismo - a crença de que não há uma verdade final - e o resultante individualismo - só eu sei o que é certo pra mim - tem tido um grande impacto no conceito de gênero masculino e feminino.
Por perdemos o contato com Deus e sua Palavra, então perdemos também o segredo tanto de comunidade (porque o pecado elimina o amor ao próximo) quanto de nossa própria identidade (por causa do profundo e deplorável estado de nossa ignorância de quem somos ou por que existimos). Na Igreja, parece haver uma crescente carência de exemplos de liderança masculina.
Não há um claro entendimento de masculinidade na sociedade porque ela tem geralmente esquecido o único absoluto (contrário do relativismo) confiável que existe, isto é, a Palavra de Deus. A verdade de Deus é infinita e transcultural. É completamente suficiente para ser o guia de transformação no tipo de homem que Deus tinha em mente (Sl. 119:105; Jo 17:17; 2Pe 1:3)
O homem deve, em submissão e obediência, alinhar seu pensamento e ações com as Escrituras, se deseja realmente entender e viver a masculinidade pela orientação certa.
Vejamos algumas características básicas dos seres humanos em relação ao assunto da masculinidade: 1) O homem foi criado à imagem de Deus – ser criativo e relacional são privilégios. Infelizmente, muitos homens tentam escapar desses aspectos de sua virilidade, declarando ter qualidades femininas. Além disso, se um homem vê a si mesmo como um simples animal, ele pode aceitar todo tipo de comportamento e paixões descontroladas (isso vale para ambos os sexos). 2) O homem foi criado como adorador. Por ter recebido uma alma, ele é por natureza um ser religioso. Ele irá adorar algo. Já dizia o ditado: “de tal maneira nasceu o homem para adorar a Deus que se não adorar o Verdadeiro, terá de adorar um falso”. É másculo buscar e amar apaixonadamente o da Deus da Bíblia. 3) Desde a queda, o homem tem sido um pecador por natureza (Rm.3:12). Ele foi criado com a habilidade de racionalmente escolher e escolheu se rebelar contra Deus. Por causa desse pecado, ele deve estar atento ao seu orgulho e saber que pode estar muito errado. “No centro de seu próprio ser há uma inata iniquidade e imperfeição que estarão com ele por toda sua vida” (pg.238). Portanto, é másculo ele admitir que pode errar. “É apenas por intermédio da redenção e de uma apropriação diária da glória de Deus que alguém pode superar esses efeitos do pecado.” (Pg 238) 4) O homem necessita da graça salvadora de Deus (Jo.3:16; Tt. 3:4-7). Isso apóia a noção de que quando Deus deu Eva a Adão, deixando claro que ele deveria amá-la e liderá-la, ele também lhe daria uma inclinação protetora ou salvadora. No entanto, o homem deve perceber que ele também precisa de um Salvador e Protetor.
5) O homem não foi criado auto-suficiente, mas necessitado de Deus e dos outros (Jo.15:5; Gl.5:14; Hb. 4:16). “No casamento, os homens não podem ser fiéis a Deus a menos que seja sinceramente e de todo coração dependentes da esposa que Deus lhes deu.” (pg.239) 6) O homem foi criado para ser diferente da mulher (Gn.1:27). Foram criados diferentes na aparência para que também haja diferenças marcadas em outros aspectos e desempenhar suas funções de maneira diferenciada. Não foi um equívoco de Deus criar uma diferença externa entre ambos, eles deveriam ser diferentes para si mesmos e na aparência externa (Dt. 22:5; 1Co 11:14-15). Deus quer indivíduos que expressem claramente o próprio gênero que lhes foi dado. Em uma sociedade onde tudo é unissex, precisamos cuidar para que sejamos evidentemente diferentes do sexo oposto em aparência, gestos e conceitos culturais apropriados.
Mas o fato de terem sido criados com diferenças, não significa que sejam diferentes em todos os aspectos. Ambos os gêneros são pessoal e espiritualmente iguais. Ambos merecem ser tratados com apreço e dignidade. Ambos são hábeis em se comunicar e foram feitos para serem um em casamento. As diferenças no projeto de Deus para os sexos vão muito além da aparência exterior. Essas diferenças são maravilhosa e belamente consistentes com os papéis que Ele nos apresenta nas Escrituras. Está cientificamente comprovado as diferenças psicológicas e pessoais entre homens e mulheres, isto inclui diferenças na estrutura e constituição óssea, músculos, pele, órgãos sexuais e funções, constituição do sangue, líquidos corporais, hormônios, função cognitiva, habilidades, visões de mundo e relacionamentos. Essas diferenças não são um produto ao acaso, nem algo para ser lamentado ou contra o qual lutar. É para ser aceito como o grande presente de um Deus amoroso.
Um homem não pode nunca ser um homem no verdadeiro sentido da palavra, ao menos que ele, em sua mente, ateste essas realidades básicas e guie sua própria vida por essas realidades e por Aquele que o criou. A masculinidade então é uma questão de mentalidade. Ir diariamente a uma academia se exercitar não o fará mais masculino. “A última palavra não vem do que está no exterior do homem, mas do que está dentro dele” (pg.241). Ser um amoroso servo sacrificial dos outros, como Jesus Cristo era, não é ser um fraco. É ser um verdadeiro homem.
Então, o que significa ser um verdadeiro homem?
Significa não confiar em seu próprio julgamento sobre a masculinidade, mas apegar-se ao fato de que existem absolutos descritos na Palavra de Deus. Significa entender as características básicas da virilidade e reconhecer que deve haver diferença entre os gêneros. Significa possuir a fé salvadora e semelhança com a pessoa de Cristo. Significa aspirar seguir os passos das qualidades que Deus descreve para homens de bem na igreja. Significa investir nas qualidades específicas que são necessárias para cumprir as tarefas que Deus nos concedeu. Em suma, significa viver uma visão bíblica de mundo com relação à masculinidade.
Masculinidade: A posse e busca de caráter da perspectiva dos redimidos, aperfeiçoado por qualidades consistentes com a distinção dos papéis dos homens de liderar, amar, proteger e prover – tudo para a glória de Deus.
E quanto às mulheres? Como retratar uma feminilidade cristã?
Sendo honrada (Pv.31:25) – se for casada, a honradez no comportamento da mulher digna passa a ser uma grande e significativa contribuição para a boa reputação de seu marido (Pv. 12:4; 18:22; 19:14; 31:23). Ela cumpre a função de uma boa companheira (Gn.2:18) assumindo o compromisso pessoal de nunca ser um embaraço ou um obstáculo para seu marido. Humildade, altruísmo, gentileza, delicadeza, paciência, são características de sua boa postura, comportando-se bem com o próximo. Mais que ser demasiadamente agressiva ou dominadora, gentileza e compaixão caracterizam suas palavras (Pv. 15:1; 25:1)
Provérbios 25:11 ensina-nos o valor das palavras apropriadas. Uma centena de ações pode prover encorajamento a outros, tais como: Entrega de bilhetes e de pequenos presentes em tempos inesperados; Fazer comentários sobre qualidades de caráter desejáveis (pontualidade, boa atitude, tolerância); Oferecendo propostas específicas orientadas pelo encorajamento; Aceitando e elogiando um trabalho bem feito (algumas mulheres, além de não saberem elogiar, não sabem receber elogios, presentes, ou seja, não sabem receber amor); Dando suporte para alguém que está magoado; Escolhendo usar a confrontação de maneira apropriada (Mt. 18:15-19) mais do que usar uma forma ‘cristã’ de repreender alguém. Ela percebe que o desenvolvimento dessas qualidades de caráter toma tempo e não antecipa recompensa (Lc. 6:30-31; 1Tm.6:17-19).
Alguns princípios importante para a mulher que aspira uma postura bíblica: 1) temer a Deus; 2) ser virtuosa (ter boas virtudes, ser digna. Fp. 4:8-9); 3) Ser confiável; 4) Ser determinada; 5) Ser econômica; 6) Ser altruísta; 7) Estar preparada; 8) Ser honrada; 9) Ser prudente; 10) Ser amável; 11) Estar fisicamente em forma.
Quantas destas características você já desenvolveu? Quais ainda precisa desenvolver? Lembre-se que Deus não pede nada aos seus filhos que não possamos cumprir com a graça que Ele mesmo concede.
As funções originais e específicas para o homem e para a mulher foram corrompidas, não criadas, pela queda. Gênesis 2:18 relata que o ato final da criação de Deus foi trazer a mulher para ser uma ‘ajudadora que lhe seja idônea”.
O homem estava incompleto sem alguém que o completasse na realização da tarefa de preencher, multiplicar e dominar a terra. Isto aponta para a inadequação de Adão, e não para a insuficiência de Eva (1Co.11:9). A mulher foi feita por Deus para suprir a deficiência do homem (1Tm 2:14). 1 Coríntios 11:9: ‘porque também o homem não foi criado por causa da mulher, e sim a mulher por causa do homem.’
Precisamos construir uma visão bíblica de mundo sobre a feminilidade e a masculinidade se quisermos alcançar êxito em nossos relacionamentos. Defender a visão bíblica da feminilidade é completamente impopular em nossa sociedade contemporânea. É, com frequência, visto como algo humilhante, inferior, limitador. Feminilidade significa ter qualidades ou características tradicionalmente associadas à mulher, como sensibilidade, delicadeza ou beleza.
Uma dama não é aquela que usa roupas cheia de babados, extremamente adornada, petulante, frívola e sem cérebro, mas ela é gentil, é graciosa, bondosa e generosa. Quanto mais femininas formos, mais masculinos os homens serão e mais Deus será glorificado. Por isso digo a você, mulher: Seja apenas mulher. Seja uma verdadeira mulher em obediência a Deus.
A mulher não foi feita para liderar. Uma mulher na liderança de um trabalho deve estar apta apara lidar com um homem subordinado a ela, de forma que preserve a sua masculinidade e a feminilidade dela. Muitas mulheres têm encontrado uma satisfação em liderar, mas elas estão certamente perdendo um sentimento mais puro e santo, que é encontrado apenas no cumprimento das funções que Deus lhes concedeu.
A mulher que entende seu lugar e assume-o, está em plena obediência a Deus e ao seu propósito, e é em decorrência desta obediência que ela se sente feliz, completa, realizada. Nenhum homem pode fazer uma mulher feliz e vice versa. A verdadeira felicidade está em cumprirmos a vontade de Deus. Quando homem e mulher, conscientes de seus papéis e funções na sociedade e na família, assumem-no, então experimentam da alegria que tanto buscamos.
Busque conhecer você mesmo e ao seu cônjuge, assim será mais fácil acertar. Busque em Deus sua própria felicidade, e então você estará pronto para dividi-la com seu cônjuge. Ninguém deve se casar para fazer o outro feliz se ainda não é feliz sozinho. Casamos para dividir nossa própria felicidade com o outro, não para fazê-lo feliz. Ninguém dá o que não tem.


Lia Silva
Bacharel em Teologia pela Faculdade Latino Americana de Teologia Integral – FLAM

Esta reflexão foi baseada principalmente na obra de MACARTHUR, John. Pense Biblicamente: recuperando a visão cristã de mundo. São Paulo: Hagnos, 2005. pg. 231-280.
Sugestões de leitura para aprimorar a visão bíblica de relacionamentos e para compreender as diferenças entre homem e mulher:
CHAPMAN, Gary. As Cinco Linguagens do Amor. São Paulo: Mundo Cristão, 1997.
CLARKE, Mauro. Nós, Casados: dicas e reflexões para o casal que busca amor e harmonia. São Paulo: Mundo Cristão, 2001.
CLARKE, David. Homens são Ostras, Mulheres Pé-de-cabra. United Press, 2001.
DRESCHER, John. Os Opostos se Atraem. São Paulo: Mundo Cristão, 1993.
GRAY, John. Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus. Rio de Janeiro: Ed. Rocco, 1997.
KEMP, Jaime. Conversando a Gente se Entende. São Paulo: Ed. Sepal, 1999.
KEMP, Judith. As Filhas de Sara: Seguindo o exemplo de uma mulher de fé. São Paulo: Ed. Sepal, 2001.
MORLEY, Patrick M. O Homem de Hoje. São Paulo: Mundo Cristão, 1995.
PEASE, Allan e Bárbara. Por que os Homens Fazem Sexo e as Mulheres Fazem amor? Rio de Janeiro: Ed. Sextante, 2000.
SMALLEY, Gary. Que bom se Ele Soubesse! Aos maridos: uma orientação valiosa para conhecer, compreender e amar sua esposa. São Paulo: Mundo Cristão, 1985.
WHEAT, Ed. Como Salvar Sozinho o Seu Casamento: princípios para reconstruir o Amor. São Paulo: Mundo Cristão, 1999.

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